Voltava sem pressa para São Paulo pela Via Dutra quando avistei a monumental Basílica Nova, na cidade de Aparecida. Resolvi visitá-la e tirar algumas fotos. Fiz alguns cliques da missa que acontecia no interior da gigantesca construção; já estava de saída quando uma senhora idosa, caprichosamente vestida de branco, deixou o culto e perguntou se eu poderia fotografá-la. “É pra já”, disse eu. “A senhora daria uma entrevista para mim?” Ela aceitou no ato. E foi assim que inesperadamente consegui a entrevista que segue.
RM: Qual o nome da senhora?
Geralda.
RM: De onde a senhora é?
Geralda: Eu venho de Maringá.
RM: Quantos quilômetros daqui?
Geralda: Eu não sei, não.
RM: Quando a senhora saiu de casa, e quando a senhora chegou aqui?
Geralda: Saí de lá às seis (da manhã). O ônibus teve um problema, teve que parar... Cheguei aqui há uma hora (ou seja, às seis e meia da tarde).
RM: E quando vocês vão embora?
Geralda: Na volta a gente vai passar por São Paulo, pra ver a missa das cinco do padre Marcelo.
RM: Cinco horas da manhã?
Geralda: Cinco horas da tarde. Depois da missa do padre Marcelo, a gente sai de São Paulo e vai embora pra casa.
RM: Estou vendo a senhora com essa roupa branca, bonita, trabalhada. Está pagando uma promessa?
Geralda: É.
RM: Eu posso saber o motivo dessa promessa?
Geralda: É que eu fiquei quarenta horas desacordada.
RM: Algum acidente?
Geralda: Não, doença.
RM: Quando foi isso?
Geralda: Há mais de cinquenta anos. Os outros prometeram por mim, fizeram a promessa.
RM: Pediram à Nossa Senhora Aparecida.
Geralda: Isso. E hoje eu vim pagar a promessa.
RM: Quantos anos a senhora tem?
Geralda: Eu tenho oitenta anos, mas na certidão eu tenho cinqüenta e três.
RM: Tem marido, filhos?
Geralda: Só tenho duas filhas, duas netas e dois bisnetos.
RM: Vamos tirar as fotos?
Vamos.
Eu sabia que Geralda não queria perder a missa; por isso, fiz as fotos com rapidez, em uma das entradas da Basílica Nova. Depois peguei o endereço dela no Paraná e fiquei de enviar as fotos nesta semana. Insistiu em pagar pelas cópias, mas recusei. Geralda se despediu de mim com um abraço e voltou, feliz que só, para o interior da igreja.