Eu estava com minha Canon fotografando transeuntes no Viaduto do Chá quando ele - um homem sério, sisudo, fala mansa, pasta de papéis nas mãos - timidamente se aproximou, dizendo que ia para Campinas atrás de um emprego. Convidei-o para uma entrevista e ele logo topou.
RM: Qual é o seu nome?
Meu nome é Daniel.
RM: Daniel, o que você está fazendo aqui no Viaduto do Chá no domingo de tarde?
Daniel: Eu estou aqui desde ontem atrás das minhas documentações. Documentação necessária para um emprego anunciado. Já providenciei, graças a Deus.
RM: É documentação para trabalhar?
Daniel: Pra trabalho, exatamente.
RM: O que você faz?
Daniel: Eu sou armador de ferragens.
RM: O que faz um armador de ferragens?
Daniel: O armador de ferragens lida com vários tipos de trabalho, de serviço, como pontilhão, ponte...
RM: Isso na construção civil.
Daniel: Construção civil. Prédio, residência, casa, Cohab, essas coisas. Diversos tipos de serviço.
RM: Você mora aqui em São Paulo?
Daniel: Moro. Estou morando agora atualmente aqui na Baixada do Glicério.
RM: Você nasceu aqui?
Daniel: Nasci em Paranavaí, mas criado em São Paulo.
RM: Onde fica Paranavaí?
Paranavaí é no Paraná, depois de Londrina, Maringá. Norte do Paraná.
RM: Você está em São Paulo há quantos anos?
Daniel: Estou em São Paulo há 17 anos.
RM: Você gosta daqui?
Daniel: Olha, gostar, a gente tem que dizer que não. Por causa do transtorno, do dia-a-dia, essa cidade, a correria. Mas em termos de serviço, a coisa aqui em São Paulo é melhor do que em certos lugares aí fora. Tem bastante trabalho. Estou passando necessidade, dificuldade, mas graças a Deus estou tentando normalizar, recolocar as coisas no lugar.
RM: Você é casado?
Daniel: Sou casado.
RM: Tem filhos?
Daniel: Tenho um filho mas não está comigo. Está no Paraná.
RM: Quantos anos de casado?
Daniel: Vai fazer 17 anos.
RM: Você está com quantos anos?
Daniel: Eu estou com 42.
RM: Você aparenta menos.
Daniel: Sim, aparento, muitos falam. Mas creio que é só a fisionomia, mesmo.
RM: O que você espera do futuro, de 2007?
Daniel: Eu pretendo agora trabalhar, recomeçar a vida, recolocar as coisas no lugar. Recomeçar de novo, se tudo correr bem. E serviço, não é? Trabalho.
RM: A sua mulher está aqui ou está no Paraná?
Daniel: Está no Paraná.
RM: Você vai trazê-la?
Daniel: Pretendo, futuramente, mais para frente.
RM: Perfeito, então. Obrigado pela entrevista e tudo de bom.
Daniel: Ok.
Apertei a mão de Daniel e ele se foi, passo miúdo e rápido, carregando sua pastinha de plástico transparente cheia de documentos. Oxalá ele consiga o emprego e traga a mulher que ficou no Paraná.