Eu estava em Aracaju e decidi passar o dia em Penedo, cidade alagoana considerada a capital do baixo São Francisco. Sabia que poderia conseguir belas fotos do casario colonial e do pôr-do-sol sobre as águas do velho Chico. Além das fotos previstas, acabei também clicando a Gil, com quem conversei.
Qual é o seu nome?
Gil.
V&I: Quantos anos você tem, Gil?
Gil: Vinte e seis.
V&I: Casada, filhos?
Gil: Não.
V&I: Você é daqui de Penedo?
Gil: Não, sou de uma outra cidade. Eu estou na casa da minha tia aqui em Penedo.
V&I: Que cidade?
Gil: Ah, você não conhece.
V&I: Mas qual a cidade?
Gil: Igreja Nova. [Igreja Nova, 20 mil almas, 30 quilômetros a frente de Penedo, no caminho para a BR-101.]
V&I: É longe?
Gil: Não. Fica a uma hora daqui. E você, de onde é?
V&I: Eu sou de São Paulo. Dá para notar pelo sotaque, não é?
Gil: É.
V&I: Conhece São Paulo?
Gil: Eu já estive lá por uns tempos.
V&I: Gostou?
Gil: Não...
V&I: E há quanto tempo você está em Penedo?
Gil: Uns três meses.
V&I: O que você faz da vida, Gil?
Gil: Não faço nada.
V&I: Que inveja! Eu faço coisas demais. Quer trocar?
[Gil sorriu, timidamente.]
V&I: Mas por que você não faz nada?
Gil: É que eu tenho pouco estudo. Fica difícil arrumar alguma coisa.
V&I: Fica difícil, sim. E quando vai voltar para casa?
Gil: Não sei, não.
V&I: Posso fotografar você? Se você quiser, depois eu mando a foto.
Gil hesitou um pouco, mas aceitou que eu a clicasse. Largou a bolsa no chão da rua e esperou que eu fizesse as fotos. Pedi que mudasse de posição para que a luz do sol incidisse em um ângulo mais favorável. Fiz assim duas fotos; em ambas, a fisionomia de Gil estava muito sisuda.
V&I: Por que você sai tão séria nas fotos?
Gil: É que eu não gosto de sair rindo.
Convenci Gil a posar sorrindo. Depois mostrei-lhe as fotos; encabulada, concordou comigo e também preferiu a foto em que se mostrava sorrindo. Muito em breve, é essa a foto que Gil receberá pelo correio.