A rua José Paulino fica no Bom Retiro e concentra boa parte dos atacados de roupas de São Paulo. Lojas já fechadas, o movimento agora não é de compradores, mas sim de funcionários das lojas voltando para casa após o expediente. Eu fotografava duas transeuntes que faziam pose para mim quando o cara surgiu: camiseta da Cavalera, bermudinha, colar de contas, cigarro entre os dedos, exigiu que também fosse fotografado. Não apenas o cliquei, mas também conversamos.
Qual o seu nome?
Luiz.
Luiz, o que você está fazendo na José Paulino no fim da tarde de sábado?
Estou chegando agora do serviço e estou à procura de uma pessoa muito interessante, que interesse a mim também.
Como é essa pessoa que você está procurando?
Ah, uma morena, um metro sessenta e oito, os olhos castanhos igual os meus, de preferência.
Você sabe até a altura certinha. Sabe exatamente o que quer!
Com certeza, véio.
Morena de um e sessenta e oito. E o que mais? Magra, gorda?
Não, não, não. Eu não tenho preconceito, não.
Pode ser gordinha?
Pode ser, cara.
Bom que seja liberada?
Com certeza.
O que mais você espera? O que você gosta de fazer?
Tudo, mano. Completo. Eu sou um cara louco.
O que é ser louco?
Louco é o seguinte: entre quatro paredes, fazer tudo aquilo que a mulher gosta e eu também, tá entendendo? E aí saiu de quatro paredes, já era: ninguém viu nada, ninguém sabe de nada.
Muito discretamente.
Exatamente.
E fora sexo, o que você gosta de fazer?
Trabalhar e tomar uma cervejinha e um Contini.
Você trabalha com o quê?
Eu sou pintor, entendeu? Pintor residencial, predial e tal.
Então você rala pra caramba, mas no fim de semana fica procurando essa morena.
Com certeza, e até hoje eu não achei.
Ah, mas você acha outras por aí...
Ah, mas depende... Mas só que nunca fez o meu hobby.
Nunca achou uma que fosse exatamente o que você queria?
Não, não, não. Ainda não.
Nunca?
Nunca, nunca, nunca. Encontrei várias, mas não encontrei ainda a que eu quero mesmo.
Aquela história: enquanto a gente não acha a mulher certa, a gente se diverte com as erradas.
Ah ah! Mas é por aí mesmo, entendeu? Só que eu prefiro a pessoa certa.
E hoje? Ainda não achou uma morena pra hoje?
Até agora, até o momento, eu tou sem ninguém.
Nem loira, nem nada.
Nem loira nem morena nem escura nem nada.
E onde você vai procurar essa mulher hoje?
Ah, Não sei. Deus sabe.
Não tem idéia ainda?
Não, não tem.
Se alguma mulher vir essa entrevista e quiser falar contigo, como ela faz? Como ela te acha?
Então, é aí que está o problema, tá entendendo? Porque o meu celular me roubaram dentro do metrô. É real. Agora, como é que eu faço? Ela tem que deixar o telefone com você, se você deixar o seu comigo. Aí ela entra em contato com você.
Então a gente faz o seguinte. Posso colocar a entrevista na internet?
Com certeza. E eu dei minhas características também. Se alguém quiser...
Então eu deixo contigo o meu cartão e você me liga. Se alguém me ligar, eu encaminho pra você.
Certeza, lógico.
Posso tirar mais fotos?
Com certeza.
E fiz mais umas poucas fotos do Luiz, que saiu todo feliz na direção do Parque da Luz. Ficou de ligar para mim em dez dias, para que eu repasse os contatos de eventuais pretendentes que tenham visto essa entrevista. De preferência morenas, de um e sessenta e oito. Se forem liberadas, tanto melhor. Alguém se habilita?