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04-FEB-2008

Entrevista concedida ao site www.animalia.pt

Emídio Machado – Aves e aranhas na mira de um fotógrafo

É fotógrafo amador mas trabalha com a qualidade de um bom profissional. Gosta de animais, sobretudo de aves, que fotografa com frequência e mestria.

Foi fotógrafo a tempo inteiro durante um breve período, na juventude. A vida levá-lo-ia por caminhos profissionais diferentes e as máquinas ficaram reservadas para os tempos livres e as indispensáveis fotografias de família. Até que, há poucos anos, a chegada do digital reacendeu a velha chama. Daí a tornar-se um nome bem conhecido, sobretudo na fotografia de aves, foi um pequeno passo. Diz, com modéstia “eu não sou fotógrafo, eu falo com eles”, mas as imagens que mostra na Internet e em exposições, desmentem rapidamente esta afirmação. Acrescenta: “tenho é a felicidade de ter comprado bom equipamento” mas rapidamente se percebe que também neste caso não é o hábito que faz o monge e que só com muito conhecimento, bastante empenho e muita sensibilidade se obtém as fotografias que Emídio Machado assina.

O contacto com a natureza e os reparos da filha foram-no tornando um melhor amigo do ambiente. A colaboração com instituições como a LPN – Liga para a Protecção da Natureza e o CEAI – Centro de Estudos da Avifauna Ibérica também contribuíram para que na mochila do fotógrafo, já sobrecarregada com 15kg de material, nunca falte um saco de plástico para trazer consigo o lixo que produz em cada saída de campo. De resto, aconselha quem queira aventurar-se pela actividade a usar vestuário e calçado confortáveis e a transportar na mochila, para além do equipamento fotográfico e do saco para o lixo, também uma capa para a chuva, água, telefone e se possível um GPS. Outra regra de ouro: nunca fotografar sozinho.

Diz que a fotografia de natureza é como a pesca e explica que por muito que se trabalhe, lá acaba por chegar o dia em que a sorte é que faz a diferença. Não guarda segredo dos locais que conhece e das técnicas que usa, porque “quando se ensina aprende-se mais”.

Fotografar as aranhas de Portugal é um projecto em curso, em conjunto com o biólogo Ricardo Ramos da Silva.

Mas o fascínio mais recente está relacionado com gotas de líquido em movimento, também este um trabalho conjunto, que exige tecnologia específica e dedicada, que António Ascensão está a desenvolver. Os resultados já se podem ir espreitando na galeria Hitecphoto em www.pbase.com/hitecphoto/
Fotografias suas, na net, encontramo-las em várias localizações, com destaque para o site que mantém em nome próprio, emidiomachado.com e para as suas galerias no PBase (www.pbase.com/emidiomachado)
Já expôs, em nome próprio, em Évora, Estremoz, Almada e Alenquer. Não por acaso o Tejo foi, e continua a ser, o pano de fundo de muitos dos seus trabalhos.

Quando começou a fotografar?

O fascínio pela fotografia começou ainda na adolescência e cheguei a ser fotógrafo profissional na juventude.
Comecei aos 18, fui para a tropa, saí da tropa com 20, fiz o curso de fotografia no exército, depois estive dois, três anos a fazer fotografia comercial, comecei a fazer umas brincadeiras, uns slides, mas depois parei, estive parado desde os 25 até praticamente aos 40.
Nesse interregno, fui fazendo fotografia de família, mas entretanto tenho comprado literatura, tenho lido bastante, nunca deixei de fazer isso, mas trabalhar com o empenho que tenho neste momento, diria que estou há 3 anos.

Hoje em dia com a facilidade tecnológica que nós temos é preciso desmistificar um bocadinho a fotografia de natureza. Não é preciso ser um ‘suprasumo’, é preciso ter alguma paciência, equipamento para fazer determinados tipos de trabalho, ter uma boa lente, teleobjectivas, alguma dedicação e interesse pela própria natureza, estudar o comportamento da espécie que se vai fotografar, conhecer os habitats para escolher a melhor altura, a melhor luz e depois é esperar – é como a pesca.

Mas quando se torna um fotógrafo de natureza?

Foi há três, quatro anos. E mais a sério há dois anos. Comecei na fotografia, nos negativos, depois fui para os slides, entretanto casei, a vida mudou, comecei a trabalhar noutra área e deixei um bocadinho a fotografia. Ainda tenho as máquinas com que trabalhava nessa altura, tenho-as em casa. Mas com o digital voltei, comprei uma Sony 707, que mais tarde vendi quase pelo mesmo preço, depois de fazer milhares de fotografias com ela.

A fotografia digital não é muito diferente?

Não, porque os princípios são os mesmos. A grande diferença é que todo o controlo que era feito no laboratório agora é feito no computador. Eu só vou ao laboratório quando quero imprimir fotografias para exposições e aí sim, levo as fotografias, estou sentado ao lado do técnico, digo o que quero, experimenta-se.

A natureza, como surge?

Nem sei muito bem, penso que surge pelo meio em que estou envolvido, moro em Almada e tenho o Moinho da Maré perto de casa, comecei a fotografar gaivotas, gostei, comecei a imprimir as fotografias na minha impressora, as pessoas começaram a gostar.
Hoje em dia olho para algumas dessas fotografias e nem acredito que alguém tenha gostado daquilo, mas na altura era o que estava disponível, hoje a tecnologia está muito mais avançada.
Tenho o Tejo mesmo a cinco minutos, foi assim que começou. E porque a Natureza é muito simples, as pessoas dizem que é complicado fotografar natureza – é mentira. É a coisa mais simples. Enquanto no estúdio temos de criar tudo e mais alguma coisa, na natureza só temos de estar no sítio certo à hora certa.

O que não é fácil!

É fácil sim. Claro que determinadas aves por exemplo, só se encontram em determinadas épocas em determinados sítios, mas há muitas oportunidades, veja o Parque da Paz em Almada – uma das minhas melhores fotografias de um pato-real foi feita no Parque da Paz. Eu ando há anos para fotografar o pato-real, com abrigos, com tudo montado, e não consigo e ali em 3 ou 4 manhãs consegui fazer uma fotografia para uma exposição. Não é assim tão difícil, as pessoas é que têm tendência para mistificar estas coisas.

Depois comecei a perceber que a máquina que tinha não chegava, comecei a ver sites dos melhores fotógrafos mundiais de natureza e a pergunta a mim próprio: se eles fazem porque é que eu não hei-de fazer? Comecei a investigar, a ler muito, a interessar-me, a minha mulher deu o impulso decisivo para eu decidir comprar a máquina que andava a namorar, uma Fugi, na altura muito boa, a partir daí comecei a olhar para tudo isto de outra forma e comecei a comprar objectivas profissionais. Neste momento tenho equipamento muito bom e agora não posso voltar para trás porque cada vez conheço melhor o meio, os animais e todos os dias tenho resultados que me incentivam a continuar. Tenho tido alguns convites para fazer exposições, pedem-me fotos para ilustrar trabalhos de investigação científica e estou envolvido noutros projectos, portanto começo a acreditar que vale a pena.

Mas há muito trabalho envolvido, nalguns casos é preciso conhecer as espécies, o seu comportamento …

Sim, há muito trabalho envolvido. Tenho de ter conhecimento dos hábitos, das espécies, da altura das migrações. No início há a tendência para fotografar tudo o que mexe. Neste momento já saio com um objectivo definido, para fotografar determinada espécie. Mas pode sempre haver surpresas. Eu ando há muito tempo para fotografar o corvo-marinho de faces brancas e consegui agora num fim-de-semana fazer três ou quatro fotografias daquelas espectaculares, se calhar não as consigo repetir daqui por seis meses ou um ano mesmo que esteja lá à espera dele com abrigos montados e tudo isso.
É como um pescador que leva uma vida inteira a pescar, há um dia em que apanha um peixe de que ninguém está à espera, isto acontece na fotografia também.

Quando decide, hoje em dia, fotografar determinado animal, fá-lo por gosto, porque é solicitado para isso ou por outra razão?

Felizmente a fotografia, na minha vida, é um hobby, não tem propósitos comerciais. Quando me sinto mais satisfeito é quando me pedem fotografias para coisas como newsletters de organizações de defesa da natureza, de educação ambiental, para ilustrar trabalhos científicos, são trabalhos que não têm uma finalidade lucrativa.
Eu estou ao contrário na fotografia – há muitas pessoas que estão na fotografia para ganhar dinheiro, eu estou na fotografia para gastar dinheiro.
E nem me sentiria confortável se me pedissem para ir fotografar uma espécie específica, até porque a minha vida profissional não me permite responder a esse tipo de solicitação.
Mas por outro lado tenho um arquivo tão grande que é fácil, se alguém me pede determinada espécie, eu ter uma dúzia de fotografias para escolher.

Tem imensas imagens na Internet. Não se preocupa com a protecção desses trabalhos?

Não, qual é o problema disso? É a felicidade das pessoas tirar aquelas fotografias? Tudo bem. As imagens estão protegidas e têm baixa resolução, o que é que as pessoas podem fazer com elas, para além de imprimir um postal? E que mal é que isso tem? Tenho inclusivamente no site (emidiomachado .com) fotografias para as pessoas usarem como fundo de ecrã, claro que está lá o endereço do meu site, mas apenas isso.

A Internet tem vantagens? Conhece pessoas interessantes por este meio?

Sem dúvida. Aliás um dos projectos em que estou empenhado agora, o Hitecphoto começou assim, num almoço entre fotógrafos promovido na Internet. Daí a minha postura, se eu devo à Internet também tenho de dar.

Está muito empenhado neste projecto.

Estou. É um trabalho que tem muitos aspectos técnicos envolvidos: hidráulica, electrónica, fotografia, luz, ar comprimido, aliás o nome procura reflectir isso.
Mas também estou a preparar um túnel de voo, para fotografar insectos. Há determinados tipos de fotografias que só são possíveis graças à tecnologia. Mas não deixa de ser fotografia, continua a ser iluminação, um fotograma, o princípio é o mesmo.

Mas as aves têm um lugar à parte!

Definitivamente têm um lugar no coração. E as aranhas, também começo a adorá-las e vou caminhar neste momento para uma fotografia mais especializada – a macro fotografia. Estou a desenvolver equipamento para isso.

Como surgiu o projecto que envolve as aranhas de Portugal?

Através do conhecimento que travo com um biólogo através de uma associação do CEAI, em Évora. Tomámos uns cafés, fui ao site dele e de repente estávamos a trabalhar com as aranhas, ele tem um profundo conhecimento sobre estes animais.

Nunca tinha fotografado aranhas?

Apenas o habitual, uma aranha no jardim uma vez por outra, o cliché.
Mas este projecto pressupões outro tipo de tratamento e de conhecimento científico que eu não tinha e não tenho. E ele (Ricardo Ramos da Silva) é um apaixonado por aranhas, como eu sou pelas aves. Tem artigos publicados, tem milhares de aranhas em casa, faz estudos de impacto ambiental usando as aranhas.
Quando ele me disse – vamos fotografar aranhas à noite, pensei que estivesse a gozar comigo, mas lá fomos de lanterna à noite à procura das aranhas e encontrámos uma radiata (Hogna radiata) que é uma das maiores aranhas ibéricas. Tenho fotografias excelentes dela, na altura não tinha a iluminação que tenho hoje e vou querer repetir aquilo. É impressionante, um bicho tão pequenino, fotografado com aumento, o resultado que dá.

Qual é o objectivo do projecto – fazer um livro?

Poderá eventualmente ter esse resultado, mas não está rigidamente estabelecido. Temos uma coisa muito boa: nem ele nem eu temos objectivos comerciais, não há prazos, não há protagonismos, apenas um interesse comum e paixão pelas coisas.

Deve ser um trabalho com dificuldades muito particulares.

O biólogo está satisfeito com o trabalho que fizemos até agora. Eu não estou satisfeito. Ainda não consegui a perfeição que o trabalho exige. Para a Internet, as fotos estão boas, mas o projecto vai mais longe e pretende ter algumas exposições itinerantes por escolas, workshops sobre fotografia de aranhas, enfim, uma componente de divulgação.
A maior dificuldade deste trabalho é a iluminação – são bichos muito pequeninos, é difícil mantê-los quietos e como são muito pequenos está a trabalhar-se muito próximo, com profundidades de campo muito limitadas, por isso quando o bicho se mexe desfoca tudo. Para ter uma ideia, às vezes estamos a trabalhar à noite, paramos para jantar, voltamos, trabalhamos até às três ou quatro da manhã e de milhares de fotografias feitas consegue-se aproveitar uma.

Nunca lhe apetece desistir?

Não. É natural que o bicho se sinta incomodado se estamos a perturbá-lo, é natural que se mexa. Desistir não, a natureza é demasiado bela para desistirmos dela.

Esta paixão por fotografia de natureza e em particular pelas aves tem alvos preferenciais? Tem espécies preferidas?

Tenho uma, o guincho. Não sei se é pela elegância da ave, se é por ser a ave por onde comecei ou se é por ser a espécie de que tenho melhores fotografias. Acho que é uma ave majestosa, lindíssima, e tenho-lhe dedicado muitas horas.
A maior parte das aves que tenho fotografado são limícolas. Tenho rapinas, e outras, mas sobretudo as que vivem junto à água. É preciso conhecer as marés, saber como se alimentam, os habitats.

E animais em casa, tem?

Neste momento só tenho uma cadela. Estou sempre em desvantagem, porque uma vez resolvi comprar um cão, mas a minha mulher e a minha filha compraram uma cadela e continuei em desvantagem (risos).
Tive peixes, pássaros, tartarugas, mas agora só mesmo uma caniche anã. Acedi por ser um “porta-chaves”, porque acho que não se devem ter dentro de casa animais que precisam de muito espaço.

Há aves no país que ainda não tenha fotografado e queira fotografar?

O grou, a abetarda, o guarda-rios e algumas outras faltam-me. Mas mesmo o que está feito nunca está feito, de vez em quando apago fotografias porque quero fazer melhor.

Link http://www.animalia.pt/canal_detalhe.php?id=144

Ana Gomes
Jornalista
ana.gomes@animalia.pt


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